Entrevistamos mais um dos ícones do Heavy Metal nacional e porque não internacional, batemos um papo com o vocalista Edu Falaschi, conhecido mundialmente pelo seu trabalho à frente das bandas Angra e Almah.
Como sempre, Edu, muito solícito e agradável nos doou um enorme tempo em responder a extensa lista de perguntas onde conversamos sobre os tempos de sua primeira banda, Mitrium, sua ascensão na cena com o Symbols, sua entrada no Angra, a criação do Almah e muito mais.
Confira nas linhas abaixo essa grande reportagem.
1 – Edu, como começou o seu envolvimento com a música?
Desde que nasci, meu pai era músico não profissional. Mas eu tive minha primeira experiência com banda aos 17 anos.
2 – Como chegou ao Rock/Heavy Metal e quais suas maiores influências?
Por causa de primos que eram fãs do Iron Maiden. Aos 12 anos eu comprei meus primeiros álbuns de metal. Minha maior influência como cantor é o Dio.
3 – Edu, até onde sabemos, sua primeira banda foi o Mitrium em 1990. O que você se lembra desta época? Quais as diferenças mais relevantes deste tempo no underground com o que você vivencia hoje?
Era tudo mágico, todos muito sonhadores, tudo era mais difícil sem internet, mas mesmo assim o Mitrium com 1 ano de banda gravou um LP. Fato quase impossível para bandas de metal na época. A gente se divertia muito, mas trabalhamos duro também.
4 – Você ainda tem contato com alguns dos membros desta banda?
De vez em quando eu falo com o Enrico (ex-baterista do Mitrium), outras vezes encontrei o Fefo na praia e de vez em quando eu falo com o Nick. Éramos grandes amigos, mas o tempo e a distância nos separou.
5 – Como foi participar da banda Venus? A meu ver foi um dos momentos que mais se projetou o seu nome na cena.
Foi muito legal, a banda era muito boa, um hard rock metal. Fiz com grande prazer, para poder ajudá-los com o CD pois o vocalista saiu repentinamente e eles me chamaram só pra gravar. Foi demais! O CD é ótimo! Vale a pena conhecer!
6 – Em paralelo a esse projeto, estava sendo também gerado um dos seus melhores trabalhos na minha humilde opinião, que foi o debut da banda Symbols. Como foi o processo de composição e como você conseguiu conciliar o tempo entre estes dois trabalhos?
Ainda tinha minha faculdade de Propaganda e MKT. Era tudo muito corrido. Mas o amor pela música quebra todas as barreiras. E amei fazer aquele álbum. Especialmente porque tinha meu irmão ao meu lado! Eu trabalhava de 9 h às 16 h, depois ia para a faculdade das 18 h às 23 h, depois ia a pé para o estúdio e gravava de meia-noite às 4 h da madrugada. Ia para casa de carona para depois acordar cedo no dia seguinte e ir trabalhar. E outra, naquela época não tinha pro-tools, nem plug in para afinar a voz, era tudo na raça, na verdade pura. Ao ouvir o CD, você pode escutar algumas imperfeições que a meu ver são a alma da música. Hoje em dia se arruma tudo, ficamos parecendo robôs.
7 – Uma coisa que pude perceber nos álbuns do Symbols é que tem forte influência do nosso querido Dio, tanto na sonoridade da banda quanto em algumas vocalizações sua. Podemos dizer que foi uma forma de homenagem?
Eu amo o Dio, em qualquer álbum eu sempre colocarei alguma coisa dele. Mas o Symbols era pesado e melódico ao mesmo tempo! Uma puta banda! Orgulharei-me para sempre de ter tocado no grupo com aqueles caras.
8 – Outro lado seu, além do de ser vocalista destas bandas é sua história como produtor. Como é este seu outro lado profissional?
Eu amo o que faço! Produzir é minha grande paixão! Estou muito feliz de estar trabalhando com muitas bandas hoje em dia! Em breve vocês poderão conferir esses trabalhos.
9 – Quais bandas que já produziu? Tem alguma que gostaria de ter trabalhado?
Symbols, Almah, Ártemis, Still Alive, Angels Holocaust e em breve várias outras. Além de vários outros projetos que ajudei, mas não assinei como produtor. Também gosto de trabalhar como coaching, que é quando alguma banda vai gravar o CD e me chamam para acompanhar as gravações só dos vocais! Eu ajo como um técnico de futebol, dando direcionamento técnico para as vocalizações, interpretações, etc., tirando o melhor do cantor e tendo o melhor resultado vocal possível para o disco.
10 – Como você vê o cenário Rock/Heavy brasileiro? Quais as dificuldades que bandas do porte do Angra e Almah ainda encontram?
Muito amador. Sem grandes profissionais no metal. Muitos contratantes que, na verdade, são fãs e não empresários. Isso prejudica a qualidade em geral. O contratante da Ivete Sangalo não é um fã dela, mas sim um profissional que visa lucros e por isso trabalha 100% voltado para o artista e a estrutura do evento. Assim tudo fica bem feito.
11 – Ao longo de sua carreira, além de suas próprias bandas, você participou como convidado de vários álbuns de várias bandas, como surgiram estes convites? Teve algum em especial?
Eles me ligam e se eu gosto, eu faço. Simples assim. Amei cantar Phantom of the Opera com a Tarja.
12 – Como e quando você decidiu formar o Almah?
Em 2006 eu lancei o Almah como um disco solo. Depois, como eu estava sem o Angra, decidi transformar o Almah em banda. E na verdade virou uma mega banda, pois os músicos são maravilhosos e super talentosos. Além de sermos amigos e fazermos com muito amor.
13 – No primeiro álbum do Almah, você contou com músicos conhecidos na cena Metal internacional, como você chegou a esses músicos?
São amigos meus.
14 – Como foi a convivência com estes músicos?
Perfeito, grandes caras! Foi uma honra! Amei viajar para a casa deles nos EUA e Finlândia. Adorei tudo! Fiz exclusivamente para mim esse disco! Sem pretensão alguma, foi alma pura.
15 – Houve algum músico que você tenha convidado para participar do álbum e que não aceitou ou não pôde participar?
Não. Eu só chamei amigos mesmo.
16 – Já no segundo álbum do Almah, você teve músicos nacionais no envolvimento do álbum e o que parecia ser um projeto acabou tomando estrutura de banda. Como você chegou a esta formação?
Eu já conhecia todos eles há bastante tempo, são grandes amigos, só o Paulo que foi uma indicação do Moreira.
17 – Qual o saldo da turnê do álbum “Fragile Equality”? Acredito que foi muito satisfatória, pelo menos o show que eu tive a oportunidade de assistir no Circo Voador aqui no Rio de Janeiro e achei que o público respondeu muito bem.
Foi bem bacana, claro que gostaríamos de ter feito shows internacionais e até mais shows no Brasil. Mas tudo tem seu tempo. Em breve começaremos um novo disco, o terceiro do Almah e talvez uma tour internacional possa acontecer.
18 – Se eu não me engano neste mesmo show, você disse que a música “Torn” quase ficou fora do álbum e só entrou por insistência do Felipe Andreoli. Explique isso pra gente.
É verdade, eu achava ela pesada demais e fora do estilo do resto do álbum, mas eu tava viajando legal (risos). Por isso que discutir tudo em democracia numa banda é a melhor solução.
19 – Em alguns shows, vocês dividiram o palco com Rafael Bittencourt em seu Bittencourt Project, como foi ver seu companheiro de banda de outro digamos “ponto de vista”?
Muito legal, assistir e ser assistido por ele foi bem diferente! Interessante!
20 – Outro fato interessante sobre você Edu é que você é fã da cultura japonesa e você acabou gravando uma versão para a abertura do anime “Saint Seiya” (a aclamada série: Cavaleiros do Zodíaco aqui no Brasil). Como aconteceu isso? E acabou que a canção “Pegasus Fantasy” é sempre lembrada e pedida nos seus shows.
Foi por acaso, a Álamo me convidou e eu cantei. De repente virou um grande hit. Só tenho a agradecer, pois eu amei ter feito e eu amava animes quando criança. Farei para sempre, se possível!
21 – Agora voltando um pouco no tempo. Como foi a sua entrada no Angra, como foram os testes?
O Kiko, através da ex-mulher dele, me chamou para alguns testes para talvez entrar antes do Fireworks, pois o Matos supostamente já iria sair naquela época, e então eu ensaiei com a banda toda – Kiko, Rafa, Confessori e Luis. Foi bem legal, tocamos uns covers e improvisei umas melodias do que seriam as músicas para o Fireworks. Mas depois só rolou mesmo em 2001 com o Rebirth.
22 – Em algum momento você se sentiu receoso de entrar no Angra devido ao nome que a banda já tinha alcançado?
Não, de modo algum. Eu sabia que iriam fazer comparações sempre, mas resolvi enfrentar. Eu só tinha receio de prejudicar minha voz por ter que cantar músicas tão agudas que, na verdade, nada tinham a ver com a minha característica natural, como eu fazia anteriormente no Symbols, por exemplo. Não deu outra, naquela época me ferrei por ter me dedicado ao extremo nos shows. Eu deveria ter parado assim que os problemas começaram, mas muitas coisas já estavam agendadas. Assumi o risco e decidi cumprir todos os compromissos para não deixar o Angra na mão. Agora que estou totalmente recuperado e voltei a cantar na minha melhor forma, posso afirmar que não faria isso hoje. Assim como vários vocalistas também não o fazem, como é o caso do Khan, do Kamelot, que está doente e parou tudo, colocando um substituto na banda para a tour.
Eu abracei todas as causas do Angra, vesti a camisa e fui pra cima, me prejudiquei física e moralmente naquele período, mas hoje a banda é um grande nome! É claro que com a ajuda dos primeiros 9 anos da primeira formação. Mas nosso trabalho nesses 10 últimos anos foi primordial para que o Angra se tornasse o que é hoje mundialmente.
23 – Como foi o processo de gravação do álbum “Aurora Consurgens” e a que você deve o fato dele não ter sido tão bem aceito por uma parcela dos fãs?
Foi conturbado, desanimado e precipitado.
24 – Como surgiu a idéia de cada um compor duas músicas para o álbum? Foi algo que aconteceu naturalmente ou foi pré-definido?
Naturalmente, só pensamos no disco! As melhores músicas entraram, como é feito sempre.
25 – O que mudou da gravação deste álbum para o novo, intitulado “Aqua”? Qual as idéias por trás das composições?
Tudo mudou! Ânimo, parceria, vontade, garra, tudo. O disco é conceitual!
26 – Foi difícil colocar Shakespeare no formato músical?
Não, foi tudo tranqüilo. Shakespeare era muito musical! Praticamente um fã de metal melódico de tanta fantasia que tinha em suas histórias. (risos)
27 – Lembro de ter ouvido na época um set acústico de vocês que foi transmitido via rádio em algumas emissoras do Brasil e pude perceber que o clima entre vocês era muito bom, devido aos recentes acontecimentos, você acha que o tempo saturou esta relação?
Éramos os três novos integrantes, ingênuos, sonhadores e felizes por termos conseguido realizar nossos sonhos. Mas as nuvens realmente não são de algodão e vimos o quanto de crueldade, ganância, ego e mentiras existem no campo profissional. Hoje sou outra pessoa! Com o mesmo amor pela música, mas com o coração calejado e com diversas cicatrizes! Despejo o que resta da minha inocência nas minhas composições e quando estou no palco cantando.
28 – Nesses anos de estrada qual foi a situação mais inusitada que aconteceu com você? Falar que é esta entrevista não vale rsrsrs.
Atropelar um veado numa estrada dos EUA, no meio da neve. Não deu nem para fazer um churrasco pelo menos!
29 – Como estão sendo as críticas em torno do novo álbum e a repercussão dos shows?
Muitas boas e algumas nem tanto. Como sempre, críticos e mais críticos, todos donos da verdade! Enquanto a verdade está no que cada um sente ao ouvir a música e isso é único, particular e intransferível.
30 – Lembro-me de ter ouvido um comentário sobre a saúde da sua voz, como ela está?
Está ótima, porém hoje tenho quase 40 anos, 20 de carreira, cerca de 11 discos gravados, mais de 50 músicas lançadas, 5 turnês mundiais e certamente mais de 300 shows nas costas e nem sempre nas condições que nós mereceríamos ter. Tudo isso sem nem um mês de folga. Isso tem um certo peso hoje em dia, não é tão fácil como era nos meus 20 aninhos. Mas hoje tenho muito mais experiência para lidar com essa vida. Sou um homem feliz, realizado e ainda querendo muito mais! A música é minha vida e morrerei fazendo isso.
31 – O que você acha da nova banda do seu irmão, o Illustria? Como foi trabalhar com um membro da família?
Muito boa! Sou suspeito, claro, mas acho meu irmão genial! Canta absurdo, toca qualquer instrumento e compõe a cada minuto uma grande música. Essa banda vai dar o que falar!
32 – Edu, você já tem em mente algum novo álbum pro Almah?
Sim, para breve!
33 – Para terminar, como você vê a cena Rock / Metal no Brasil?
Crescendo, mas ainda engatinhando! Mas isso vai mudar! Tenho fé!
Edu muito obrigado pela entrevista foi uma grande honra, espero poder ver você em breve pelos palcos aqui no Rio de Janeiro, agora fica o espaço pra você mandar uma mensagem aos nossos leitores.
Muito obrigado a todos os fãs pelo apoio e nos vemos nos shows!
Obrigado mais uma vez Edu pelo tempo e atenção desprendidos. Para saber das novidades sobre Edu Falaschi e suas bandas, seus projetos, acessem www.edufalaschi.com.br e www.myspace.com/edufalaschiofficial agora com uma nova galeria de fotos.