Desde 1995 no cenário carioca, a Savant é uma das bandas que vem se destacando no conturbado underground nacional. Com a trajetória marcada por dois EPs (Portrait Of Reality e Evidence Elimination) e um full lenght lançado em 20067intitulado No Hope, a banda apresenta um som pesado, maduro e com muita personalidade.
E é por essas e outras que vamos bater um papo com Antonio Vargas, hoje vocalista e guitarrista da Savant além de ser o único membro original da banda.
Salve Antônio, tem um bocado de tempo que nós não nos esbarramos mais pela Pedro Lessa. Primeiramente Antônio gostaria de saber o que te levou a ser vocalista de uma banda de Thrash Metal e qual o seu primeiro contato com o Heavy Metal?
Antonio: Sim tem tempos que não nos vemos. Depois da morte de Carlinhos, foi muito difícil para eu voltar lá e não vê-lo mais. Ele era um cara especial. Esse cidadão faz falta ao metal nacional.
Respondendo sua pergunta, meu primeiro contato com heavy metal faz tempo. Estou velho (risos) ... mas faz tempo. Respondo essa entrevista às vésperas do meu aniversário e lembranças vêm à tona. Lembro-me de tantas coisas que escreveria um livro aqui. Cresci ouvindo rock com meu pai que curtia Hendrix, Led Zeppelin, Pink Floyd entre outros. Ou seja, a cultura rock sempre esteve na minha casa. Com certeza foram bons tempos os fins dos anos 80 início de 90 onde o Caverna, o Garage e Circo Voador tinham uma magia diferente. Naquele tempo as pessoas iam aos eventos verem bandas autorais, independente de quem fosse. As pessoas iam porque era metal, entende? Não importava se era black, thrash, death ou tradicional. Cresci nesse cenário.
Quando montei a banda ela chamava-se Oráculo. Isso foi em novembro de
Qual a preparação vocal você utiliza e os cuidados que toma para manter o pique durante um show?
Antonio: Procuro evitar gelados e descansar bem antes dos shows. Só depois do show que eu comemoro.
Você também atua como guitarrista da banda, como é conciliar as duas funções? Deve ser uma tarefa um tanto quanto árdua.
Antonio: O processo é árduo e complicado, Sou do tipo de pessoa que faço as coisas no feeling. Preciso acreditar no que canto e ter afinidade com a música. Pode parecer louco mas é assim que eu funciono. Depois que acredito no que canto e que tenho a convicção que a música expressa realmente o que sinto, aí as coisas ocorrem naturalmente.
O Savant está na estrada desde 1995 e o primeiro registro foi o EP Portrait Of Reality, lançado em 1999, como você analisa esse trabalho hoje?
Antonio: Foram trabalhos que me orgulho de ter feito. Se não fossem eles não teria aprendido nada na música e não teria chegado até aqui. Com erros e acertos, os trabalhos foram realizados de forma honesta e não devo nada para ninguém. Todos os trabalhos da banda Savant foram independentes.
Como foi a recepção do público em relação ao Portrait Of Reality?
Antonio: Na época as críticas foram boas. Lançamos pelo selo da Varda Records, de Carlos Lopes (ex-Dorsal). Ele produziu o cd e na mesma época estava lançando o seu selo. Fizemos poucos shows devido às mudanças de integrantes na banda, o que acabou prejudicando a divulgação. Além desses fatores ocorreram outros que acho que não cabe falar. Já se passaram muitos anos e não vale à pena ficar mexendo em algumas feridas. Entretanto digo uma coisa: não se pode pagar por àquilo que não se fez.
Como foi concebida a arte da capa?
Antonio: Foi feita pelo W. Perna (Genocídio). Inicialmente, nós tínhamos uma capa feita M. Reeve e Helio Lambais. Houve um problema técnico sério na época que Carlos Lopes acabou resolvendo da seguinte forma: chamando o Perna para fazer a capa. Para você ter uma idéia, eu só soube como era a capa no dia que abri a caixa da fábrica na casa do Carlos Lopes. Sendo assim não tenho muitos detalhes para explicar como foi feita mas, com certeza, atingiu as nossas expectativas.
Em
Antonio: Com certeza. Foi a virada que a banda precisava fazer no aspecto musical. Mudança de sonoridade, forma de compor e tecnologia melhor. Foi um recomeço importante.
A música Chaos II presente
Antonio: Com certeza é.
O Savant tem como tema as mazelas da sociedade, como dito no site oficial, vocês mostram a degradação humana, a deturpação dos valores e a destruição do mundo que conhecemos. A revolta com a condição humana atual se mostra clara no peso da banda e em seus vocais, como você enxerga a sociedade hoje?
Antonio: A sociedade está mudando para pior. Podemos dizer que é evolução ver tudo se resumir a uma tela e teclado? Pergunto-os: nos dias atuais, quais são os bons momentos que temos neste mundo globalizado onde tudo é descartável, com as relações pessoais digitalizadas e com o tempo mais rápido do que realmente é? O homem inventou a tecnologia para serví-lo e, na verdade, tornou-se escravo dela.
Acredito que a falta de cultura e educação são alguns dos principais problemas de nossa sociedade atual, isso se reflete em vários aspectos inclusive em uma grade televisa pobre e manipuladora. Qual a sua opinião sobre isso?
Antonio: Concordo contigo
O Rock / Heavy Metal de uma maneira geral sempre foram estilos de música com conteúdo na maioria dos casos. Seria essa questão um empecilho para que as bandas não toquem
Antonio: Talvez!!! Na verdade, pode ser que o problema esteja
Hoje temos o advento de rádios online que possibilitam que algumas bandas tenham um mínimo de promoção e divulgação, inclusive o Savant está na programação de algumas delas. Qual a importância deste tipo de meio de comunicação para as bandas underground e até mesmo algumas consideradas mainstream?
Antonio: Sim, colabora. É indubitável a importância para divulgação de uma banda quer seja ela iniciante ou “mainstream”. É melhor caminho para universalizarmos o nosso trabalho.
Falando
Antonio: Essa é uma pergunta que fico um pouco ressabiado de responder. Sou do tipo de não ter pudores de falar o que penso e a vida me ensinou que as pessoas não estão prontas para ouvirem as verdades. Se eu abrir a boca, relatarei muitas coisas que já vi de errado e, que de certa forma, explicam o porquê de algumas coisas que ainda acontecerem. Se eu o fizer tenho certeza que amanhã serei retaliado. São vários fatores que precisam mudar e o primeiro é a mentalidade do público, conforme já mencionei em respostas anteriores desta entrevista.
Recentemente em alguns fórums, e também em alguns posts em blogs, os fãs tem reclamado muito dos produtores de eventos do Rio de Janeiro. O quão válida você acredita que sejam essas reclamações? Você acha que ainda existe muito amadorismo na cena?
Antonio: O problema é gigantesco, meu caro.
Entendam uma coisa: o Rio já foi um “el dorado” do metal nacional no fim dos anos 80, início de 90. Por causa de um produtor que monopolizava os eventos naquela época, no qual eu não citarei nome por uma questão de ética, que a cena de metal do RJ foi para o buraco. Esta é a única verdade!!!
O público desta época era fiel e motivado a ir para os shows pois os grandes eventos aconteciam, como por exemplo o Rock in Rio e Hollywood Rock. Olha que tinha inflação na época. Havia espaços para tocar mas, o cara fez tanta merda que destruiu tudo. O Rio ficou entregue as traças.
Para colaborar com esse cenário trágico em 1995, o Circo Voador, que era um local onde muitas bandas nacionais que explodiram na época tocaram, fechou e demorou muitos anos para ser reaberto.
Depois começaram com essa história de pagar para tocar para abrir para banda “mainstream”. Quer que diga onde este problema começou? Eu sei quem, como e onde foi. Tenham certeza que, todos que se propõem a montar e ter uma banda ainda sofrem conseqüências pelo precedente aberto por uma banda das antigas que está extinta.
Para completar a celeuma, os produtores começaram a fazer eventos de banda cover, na tentativa de chamar e garantir o público o evento. A maior prova disso que o maior evento de metal no RJ hoje é de cover. Tem locais que só colocam banda autoral se tiver uma cover no mesmo evento. O produtor que tenta fazer show com banda autoral tem saído no prejuízo constantemente e fica com o evento vazio. O público precisa entender que sem ele nada acontece. A mentalidade precisa mudar.
O que acho mais impressionante é que tem gente que fala que não tem dinheiro para uma num show de banda nacional que custa
As pessoas precisam entender algumas coisas: sem público não há receita; sem grana não há estrutura e divulgação e; sem estrutura não há show. O pior é: sem local para shows e público que apóie as bandas autorais nacionais, estas acabam se desmotivando e encerrando suas atividades. Este é o cenário.
Hoje em dia, há poucos produtores sérios que tentam fazer as coisas de forma adequada aqui no RJ e no Brasil. Eu vejo o grau de dificuldade que estas pessoas encontram para reverter o quadro e fazer o cenário renascer. Pelo menos a perspectiva é melhor do que há de algumas anos atrás. Hoje, há gente de boa índole e com disposição para fazer algo de bom.
Mudando de assunto, como se deu e como foi o seu encontro com o grande mestre Tom Araya (Vocals, Bass – Slayer)?
Antonio: Foi um momento ímpar e rápido. Foi no dia em que eles fizeram o show da turnê do Christi Illusion aqui no RJ. Se eu não estiver enganado, dia 6 de setembro de 2007. Descobri qual era o hotel que eles estavam hospedados. Fui lá, na esperança de vê-los e consegui. Foi tudo muito rápido. Eles estavam saindo para o local do show. Ele foi solicito e simpático. Agradeço-o por este momento.
Antonio: Foi excelente a repercussão. A mídia em geral curtiu e as resenhas foram positivas. O No Hope foi a síntese de um trabalho de vários anos, de pessoas que deram muito duro para fazer um disco honesto, sem pedir um centavo para ninguém.
Como foi a promoção do álbum? E os shows?
Antonio: Fizemos poucos shows devido aos problemas que citamos acima do cenário carioca. Isso atrapalhou um pouco.
Como foi o trabalho de produção e gravação realizado
Antonio: Fizemos tudo com o Sidney Sohn. Ele participou do trabalho do Savant desde a época do Evidence Elimination, que foi a prévia do cd. Trabalho na pré produção, gravação, mixagem e masterização. É uma pessoa fantástica que sabe extrair o melhor que cada músico pode fazer.
Como foi a preparação da parte gráfica?
Antonio: Todas as artes internas e capa foram escolhidas e aprovadas pelos membros da banda na época, junto ao nosso amigo V. Mesquita (Shogun) que foi o responsável pela arte.
O que mudou na roupagem da música Claim, presente também no EP Evidence Elimination?
Antonio: Engraçado você falar sobre essa música. O pessoal da imprensa gosta dela. (risos) Houveram poucas mudanças. Como a versão do Ep Evidence Elimination é uma prévia do que veio acontecer no cd, deu liberdade para a banda mudar alguns detalhes e fazer um polimento na música. Há uma virada de bateria na volta da parte instrumental que não tinha e alguns overdubs de guitarra.
Fiquei sabendo por alto que a banda sofreu algumas alterações em seu line-up, a informação procede? Se sim, quais as alterações?
Antonio: Sim houve, infelizmente. Isso parece uma síndrome na banda. Sobrei apenas eu e precisei remontar a banda mais uma vez. Demoramos a remontar, mas estaremos de volta aos palcos agora em 2011 com uma formação que fará história. Estou otimista.
Nos meios de divulgação da banda, temos um “comunicado” dizendo “Novo Savant Em Breve”, isso se deve a reformulação da banda ou um novo registro?
Antonio: É inevitável que quando uma banda passa por um processo de reformulação grande ela não seja nova. Porém, tive o cuidado de trazer para banda pessoas que somem; trazendo novas idéias e respeitando o que o Savant já construiu até então. Hoje contamos com Diego Cunha (guitars), o velho e bom amigo Leo Sabre (bass) e, fechamos o line up com Rogers Viana (drums).
Quais os planos para o ano de 2011?
Antonio: Já estamos com sete músicas novas prontas. A galera que entrou está trabalhando duro mesmo, contribuindo de forma positiva e pontual para as composições. São pessoas geniais e estou otimista quanto ao futuro. Começaremos os ensaios agora
Antônio gostaria de agradecer em nome da equipe do blog a entrevista e dizer que estamos ansiosos aguardando um show do Savant. Fica o espaço para uma mensagem aos fãs.
Antonio: Fãs??!! Aonde? Risos. Brincadeiras a parte, queria agradecer o espaço concedido por você para esta entrevista e pedir desculpas aos leitores caso eu tenha sido excessivo em alguma resposta. Apenas tenho um compromisso: ser verdadeiro. Abri meu coração para todos que leram esta entrevista. Responder esta entrevista na véspera do meu aniversário foi um presente.
Espero poder encontrar nos eventos de bandas autorais, head bangers de todos os guetos. Só nós podemos mudar o que aí está.
2 comentários:
Eu concordo com a maioria das as palavras do Antonio. Em realção a globalização, a pirataria sempre vai existir.
Bandas Mainstream e bandas do Underground reclamam do defict que que existe pra essas para o mesmo pela pirataria.
Antigamente, a internet não era acessível a todos, por isso as pessoas compareciam a eventos de metal independente do estilo, pois naquela epoca, as pessoas eram limitadas.
Hoje em dia com a internet disponivel a todos, os ouvintes podem escolher o som que quer escutar e aos shows que querem comparecer.
Com isso, nao existe tanta segregação que existia nos anos 80 e 90.
Enfim, eu so fã fiel ao Savant, e sempre que for possível estarei no show dos caras e apoiando o som deles
SAVANT 2011!!!!
Um abração Antonio!!!!
Bruno Tavares
Caro amigo Bruno. Fico feliz de ter lido a entrevista com o devido cuidado.
Entendo suas colocações e, de tudo que falou, queria fazer alguns complementos e adendos para refleção.
A pirataria é um problema sem solução de fato pois não foram mudadas as leis dos direitos autorais. Quando a internet surgiu, estas leis já existiam e não se modernizaram, não acompanharam a revolução social que a internet provocou. Hoje, de fato, não há mais controle.
A internet só veio a ajudar a piorar o problema da não presença das pessoas aos eventos. As pessoas ficaram ainda mais comodistas e inertes. Sendo assim, o problema maior não está no acesso a informação e sim em como fazem o uso da informação.
É como falei: a mentalidade do público tem que mudar e os headbangers precisam entender, de uma vez por todas, que sem eles nos eventos nada é possível. Veja bem, as pessoas poderiam muito bem ver a divulgação dos eventos e irem, correto? É isso que acontece quando tocam bandas autorais? Você sabe muito bem que não. As vezes tem pessoas que curtem um estilo e não vão no evento que gostam; alegando falta de grana. Entretanto, se vier uma banda gringa conhecida, o pessoal arruma para o ingresso, cerveja e mershandising. Aonde está o problema então?
No exterior, onde a internet é mais desenvolvida e difundida que aqui, as pessoas comparecem aos eventos. Tem gente que sai da Holanda e vai para Alemanha ver um show.
Eu entendo o que quer dizer mas a internet precisa nos servir a humanidade e ficarmos escravos dela.
Quanto a segregação isso é um problema similar ao racismo. Muitos criticam o racismo em músicas mas agem desta forma lamentável. É paradoxal.
No que se refere a segregação; em SP, fiquei sabendo, recentemente, que há grupos do estilo "X" que não convive e ataca o estilo "Y". Portanto, estão em guerra. Ou seja não é um problema local e datado dos anos 80 e 90. Ainda acontece atualmente em 2011.
Isso é primitivo e repugnante.
As pessoas precisam evoluir e se unir!!!
Abraços
Antonio (SAVANT)
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